#3 A Primeira Grande Guerra (1914 - 1918)
A Primeira Grande Guerra
O seguinte texto se trata de uma tentativa de síntese do texto de Marcia Maria Mendes Motta - A Primeira Grande Guerra da disciplina de História Contemporânea II. As referências do texto estão no final da página junto com um link para acessá-lo!
A Primeira Grande Guerra, ou Primeira Guerra Mundial, foi um confronto entre rivalidades imperialistas ligado a suas potencialidades econômicas que ocorreu entre os anos de 1914 a 1917. Considera-se que os principais países dessa guerra foram:
Rússia, França e Inglaterra vs Alemanha
Inglaterra:
Primeira nação industrial (Revolução Industrial) que começa a ter espaço de mercado reduzido no contexto do capitalismo industrial por conta da industrialização de outros países.
O novo modo de produção estava a todo vapor pelos efeitos do fechamento dos campos, o que obrigou camponeses a irem para as cidades para a busca de emprego que se deu, em maior parte, em indústrias.
Rainha dos Mares - Inglaterra tinha um alto poder marítimo o que culminou, junto à guerras e colonização, no amplo comércio exterior inglês.
Havia pressão pelo alto desenvolvimento de outras nações que se viriam a se tornarem potência. Esses outros países aprenderam com a industrialização e estrategicamente adaptaram esse processo em maneiras que seriam mais eficientes para se igualar ou ultrapassar a potência britânica.
Alemanha (Império Alemão):
Estrutura política arcaica: associava poderes entre grandes proprietários de terras e pela ligação entre indústrias e bancos. Foi comum o estímulo de cartéis para a formação de uma economia sólida e concorrente no mercado nacional e internacional.
Alto desenvolvimento técnico, industrial e tecnológico
Estímulo da construção de estradas de ferro consolidava o mercado interno, que, por sua vez, impulsionava a indústria
Indústria planejada cuidadosamente para ser forte concorrente da Inglaterra
França:
Poucas indústrias: população majoritariamente camponesa no século XIX. Com isso, a indústria não prosperou tão “facilmente” como nas outras potências.
O mercado interno não era tão sólido, pois camponeses não utilizavam tanto do consumo de produtos das indústrias e a população consumidora que vivia nas cidades era pouca.
O estímulo ao comércio nacional e industrializado se deu por investimentos ingleses e do Estado na construção de estradas de ferro. A indústria francesa era voltada para a qualidade de seus produtos já que o que vinha de lá era visto como bonito e de bom gosto.
A industrialização foi menor e com menos impactos sociais, pois o caráter camponês não foi rompido.
Por conta do alto potencial industrial de Inglaterra e Alemanha, a França não via vantagem em se tornar um concorrente.
Rússia:
“Gigante com pés de barro”: maior potência em termos de população. Essa era majoritariamente camponesa (cerca de 79% de pessoas vivendo no campo)
Grandes contrastes sócio-econômicos: em meio à massa camponesa miserável, ainda havia uma parcela social moderna bem sustentada pela indústria e tecnologia ligadas ao capital estrangeiro.
Estado autoritário e militarizado que devia manter o manobrar a ordem e paz social, evitar revoltas operárias e camponesas e lidar com o capital internacional e a indústria.
A fragilidade da indústria iria se mostrar com a Primeira Grande Guerra, com o aumento da miséria e pobreza generalizada.
Alianças, Belle Époque e Paz Armada
Nesse contexto de virada do século XIX e início do século XX, os países se desenvolviam enquanto nações e potências, vivendo um momento otimista, em busca de desfrutar da inestimável capacidade humana, com desenvolvimentos tecnológicos, culturais e industriais.
Enquanto isso, entre as potências (Inglaterra, Alemanha, França e Rússia) velhos conflitos e rivalidades se tornavam cada vez mais e próximos à realidade. Em meio a essa bela época, a indústria se desenvolvia junto com o poder bélico e militar desses países. A produção e desenvolvimento de maneiras de causar mortes aconteciam junto com os alistamentos militares obrigatórios. Ou seja, no pano de fundo de um contexto otimista e pacífico, eram alimentados os arsenais e possibilidades de conflitos.
Assim, com as dimensões tomadas sobre os desenvolvimentos bélicos e mortíferos, esses países se envolviam em alianças como forma de se auto-protegerem uns dos outros e de suporte em caso de conflitos com terceiros. Ou seja, buscava-se formas de garantir uma proteção e paz com uns como forma de proteção em relação a outros.
Nacionalismo
A industrialização, desenvolvimento econômico dos mercados internos e militarização de caráter bélico, estavam sendo guiadas por projetos internos nacionalistas. Voltando as forças e estratégias para um crescimento próprio, as potências tinham um interesse cada vez maior em construir suas nações consolidadas com um povo que compartilhe sentimentos de orgulho e pertencimento, luta e morte pelo próprio país.
Assim, a construção do nacionalismo se dava, pela criação de mitos formadores de heróis nacionais, através da educação pública, das instituições militares. Era interessante para essas nações promover crenças de que inimigos externos, como países rivais, eram culpados pelos defeitos e misérias da nação. Para o combate desses inimigos estariam jovens patriotas e militares, munidos de um sentimento de corrigir injustiças que foram feitas ao seu país e dotados da mentalidade de superioridade da própria nação.
Possibilidades e Motivações de Conflitos à vista
Unificação da Alemanha em 1871
Esse processo ocorreu em meio à Guerra Franco-Prussiana. Tal guerra resultou na derrota francesa, que também foi desfalcada com a perda das regiões ricas em ferro e carvão: da Alsácia e da Lorena - anexada pela Alemanha.
Décadas depois, no contexto de grande concorrência entre Alemanha e Inglaterra, foi de grande interesse dos britânicos que a França tomasse de volta de seus rivais essa região rica em matéria prima. Era um apoio mútuo, da anexação de um território perdido aos franceses e freio para o maior concorrente direto da Inglaterra.
Expansão Imperialista e Tríplice Aliança
Era um fator de conflito por si só, tendo em vistas disputas por territórios além das próprias fronteiras.
A região dos Balcãs é um exemplo. Havia conflitos por interesse do domínio nessa região que envolviam interesses dos grupos étnicos locais, da Áustria, Rússia e Império Turco.
Aí aparece a influência de alianças quando se forma a Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália) para proteger interesses austríacos. A Alemanha, como forma de garantir acordos com a Áustria compõe a Aliança junto com a Itália.
África e Entente Cordiale (ou Tríplice Entente)
França e Inglaterra eram potências imperialistas com colônias em África. A fim de superar conflitos, principalmente em relação ao Marrocos, criaram a entente cordiale, possibilitando acordos de divisão do continente africano.
Por interesse à região dos Balcãs e necessidade do capital estrangeiro para o setor industrial interno a Rússia se anexou à entente cordiale, que, posteriormente, também ficou conhecida como Tríplice Entente.
O Início e a Generalização da Guerra: As Frentes de Batalha
O estopim em Sarajevo
Em 1914, numa tentativa de unificação de uma monarquia tripla entre Áustria, Hungria e os eslavos o príncipe herdeiro do trono austríaco, Francisco Ferdinando, esteve em Sarajevo (atual capital da Bósnia).
Nessa ocasião, no dia 28 de junho de 1914, o herdeiro foi assassinado por um integrante de uma sociedade chamada Mão Negra: que defendia a integração da Bósnia à Grande Sérvia e a independência em relação aos interesses austro-húngaros
Por conta da morte do príncipe a Áustria declarou guerra à Sérvia.
Efeito dominó das Alianças
Em função de alianças e em prol de sua proteção a Sérvia contou com o apoio das forças russas.
A Rússia, por conta do entente cordiale, contou com a aliança de França e Inglaterra
O Império Austro-Húngaro, pelas alianças, contou com as forças da Alemanha. Ou seja, a morte do herdeiro austríaco acionou um efeito dominó que já havia sido formado por conta dessas alianças com seu caráter de apoio militar.
A estratégia alemã contava com uma curta duração da guerra, o que levou ao planejamento de um ataque que duraria cerca de 40 dias através do Plano Schlieffen. Este consistia num ataque ao território belga, seguindo com ataques ao noroeste da França, para depois de uma ação rápida, mover as tropas para o oriente em direção a ataques à Rússia.
Assim, desde o início dos conflitos se estabeleceram frentes de batalhas orientais e ocidentais. No front oriental estavam tropas alemãs e austro-húngaras contra as numerosas forças russas. Na frente ocidental as batalhas envolviam tropas alemãs contra o poder militar francês e britânico.
A entrada do Império Turco
Os países em guerra começavam a ter melhor noção do quão longa seria a guerra - o que contrariava os planos, principalmente, alemães
Em apoio às tropas alemãs entra na guerra, na frente oriental, o Império Turco
Em resposta a essa entrada, França, Inglaterra, Bélgica e Sérvia declararam guerra ao Império Turco.
Batalha do Marne e Trincheiras
A Batalha do Marne foi marcada pelo surgimento das trincheiras e pela queda do plano Alemão
Com a estratégia de guerra das trincheiras, sobretudo no front ocidental da guerra, os conflitos passaram a ser muito mais duradouros e estáticos
Trincheiras eram valas de, aproximadamente, dois metros de profundidade e que poderiam alcançar vários quilômetros de extensão onde soldados passaram a maior parte do tempo, inclusive últimos momentos de vida, durante o período da guerra
Se tornaram o principal palco da guerra, de modo que nenhum dos dois lados conseguia avançar além das valas e barricadas de sacos de areia que cercava um ambiente de fome, dor e desespero.
Essas trincheiras, então, passam a ser o lar de combatentes e agentes transmissores de infinitas doenças. Sem auxílio médico, com demasiada taxa de mortalidade e alta dificuldade de remoção dos cadáveres que acabavam por ser abandonados - aumentando o estado geral de degradação e dor.
Os Anos 1915 e 1916
No ano de 1915 a Itália se posiciona e entra na Grande Guerra
Esse foi o período da guerra em que alemães, pela primeira vez, usavam o gás como arma nos conflitos. A mais temida dessas armas químicas da Primeira Guerra foi o Gás Mostarda. Muitas vezes esses gases eram lançados pelas aeronaves, como os dirigíveis ou “zepelins”.
A Campanha de Gallipoli teve início em 1915 e consistiu numa investida por parte dos aliados na península turca Gallipoli. Lá, as tropas turcas estavam preparadas e bem estabelecidas em trincheiras e foram travados meses de conflitos até a derrota dos Aliados.
Na batalha de Somme, em 1916, houve o emprego de uma arma nunca antes usada: o tanque de guerra inglês.
O Ano de 1917
Neste ano a Alemanha toma a postura de um bloqueio, sobretudo marítimo, da Inglaterra e França. Os germânicos passaram a alertar a todos os países para cortarem suas relações com ingleses e franceses.
Basicamente, a ideia alemã era afundar todo e qualquer navio encontrado na tentativa de furar o bloqueio sob a ameaça de submarinos e cruzadores que já estavam contendo embarcações estrangeiras - causando a fome generalizada em diversos locais levando a morte àqueles que não estavam nos campos de batalha
Dentre esses navios, logicamente, estariam embarcações norte-americanas. Assim, o bloqueio, de certa maneira, forçou a entrada dos Estados Unidos da América na Primeira Grande Guerra.
Estados Unidos da América:
Grande potência daquele contexto e se mantinha neutro em relação às potências e conflitos europeus
Manteve estreita relação comercial com os Aliados entre 1914 e 1917 - alimentos e armas;
O bloqueio alemão afetou diretamente as rotas econômicas fundamentais dos estadunidenses
Outro fator importante para a entrada dos EUA para a guerra foi a saída da Rússia que passava por uma revolução no ano de 1917.
A Revolução e Retirada Russa
A participação russa na guerra agravou a miséria de operários e camponeses
Logo, aumentou o descontentamento social em relação ao Estado czarista que foi derrubado durante a Revolução de Fevereiro de 1917 formando-se um governo provisório
Porém, o governo provisório manteve a Rússia na guerra e não foi capaz de diminuir a miséria.
Se estabeleceu um contexto de grave crise na indústria, escassez de alimentos e inflação, cuja consequência foi o aumento da popularidade dos Bolcheviques e sua luta do “pão, paz e terra”.
A luta bolchevique respondia aos apelos de pobres camponeses e citadinos e com esse apoio, em outubro de 1917 os bolcheviques tomam o poder sob a liderança de Lênin.
Em março de 1918, pelo Tratado de Brest-Litovsk, a Rússia é retirada da Guerra. Com ele a Rússia aceitava a perda da Finlândia, da Polônia russa, da Ucrânia e dos países bálticos: Lituânia, Letônia e Estônia.
Com o desgaste das tropas alemãs em amplas frentes de conflitos contra as nações da entente, após quatro longos anos de conflitos o Estado alemão assinou o armistício. Isso representava a derrota alemã e aceitação de um tratado que marcou o povo e a nação. Apesar de todas as motivações e maneiras de engajamento na guerra por parte de todos os países envolvidos, pelo armistício, e posteriormente o Tratado de Versalhes, a Alemanha foi o único país reconhecido culpado pelo conflito - o que posteriormente seria usado como argumento para grandes estragos causados por Adolf Hitler.
Tratado de Versalhes e imposições à Alemanha
Conhecido como Ditado de Versalhes pelo alemães com Alemanha obrigada a admitir inteira responsabilidade pela guerra
Alemanha obrigada a restituir a região da Alsácia e da Lorena à França
Entregar os distritos de Eupen e Malmedy à Bélgica, Schleswig à Dinamarca, Memel à Lituânia e parte da Prússia Oriental à Polônia
Pagar 132 bilhões de marcos-ouro num prazo de trinta anos, confisco dos investimentos e bens nacionais ou privados alemães existentes no exterior.
Aceitar a desmilitarização do seu exército e proibição do engajamento militar obrigatório por 12 anos.
Consequências aos aliados dos alemães
Independência de Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Iugoslávia e Polônia com o desmonte do Império Austro-Húngaro após os tratados de Saint-Germain e Trianon
Desmonte do Império Turco Otomano e, logo, surgimento de Iraque, Síria, Líbano, Palestina e Transjordânia.
Junto ao fim da guerra, mostra-se a destruição de riquezas, problema de reconversão para uma economia de paz e a inflação alimentada por grandes empréstimos dos Estados Unidos . O otimismo da antiga bela época foi substituído pela violência, junto da fome, da miséria e da desesperança causadas no período de 1914 a 1918 que foi, segundo o historiador E. Hobsbawm, “uma máquina de massacre provavelmente sem precedentes na história da guerra”.

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