Filme "Vazante" - Resenha




A seguinte publicação diz respeito a um simples trabalho desenvolvido por através da disciplina História do Brasil II em que foi proposta uma resenha sobre o filme Vazante. Por ter gostado das discussões em sala e também do filme resolvi compartilhar este trabalho aqui no Blog!

A produção cinematográfica que recebeu o nome de “Vazante” [1], foi um filme produzido em 2016 sob a direção de Daniela Thomas e lançado no dia 9 de novembro de 2017. O drama de caráter histórico foi gravado no Brasil e seu roteiro foi escrito pela própria Daniela Thomas e Beto Amaral. Este último foi, também, um dos produtores do filme junto com Maria Ionescu e Sara Silveira.
As críticas sobre o drama são variadas, desde grandes elogios, como proferidos por Daniel Schenker no site O Globo [2], que destaca o desempenho dos atores e a fotografia de Inti Briones. Contudo, o filme também recebe críticas negativas por parte de outros, como a que foi feita por Inácio Araújo, através da Folha de São Paulo [3], ao concluir que o drama teria sido “frouxo” e “estéril”, por questões que dizem respeito à representação do que foi a escravatura.
http://br.web.img3.acsta.net/videothumbnails/17/02/23/20/26/222260.jpgAs principais críticas negativas em relação à produção podem ter acontecido por uma série de questões em voga na sociedade atual. O filme foi anunciado como um drama que retrataria a escravidão no período colonial do Brasil, contudo, não foi o que ocorreu. Como um demonstrador de questões cotidianas de um senhor branco, o filme teria cumprido seu papel. Porém, em um momento de grande manifestação e articulação de importantes movimentos negros em que a luta por representações é uma das disputas em pauta, foi considerado que o filme deixou a desejar ao tratar sobre a escravidão no Brasil. O drama que, de fato, deveria ilustrar as complexas dinâmicas, processos e relações da escravaria, foi lido como mais uma produção midiática que reproduz discursos, práticas, visões e focos sobre a casa-grande dando poucos minutos de tela e voz para os próprios escravos que foram, no mínimo, a maioria esmagadora em números.
Assim, a polêmica produção de Daniela Thomas, se passa em Diamantina no ano de 1821, um período em que, segundo o filme, estaria passando por uma crise na exploração de diamantes, fonte das maiores riquezas dos senhores de escravos naquele contexto. Os principais personagens da trama são: um português chamado Antônio (Adriano Carvalho), Beatriz (Luana Nastas), Dona Ondina (Sandra Corveloni) e Bartholomeu (Roberto Audio) – pais de Beatriz, Dona Zizinha – avó de Beatriz, o pequeno escravo Virgílio (Vinicius dos Anjos) e sua mãe Feliciana (Jai Baptista) e o forro Jeremias (Fabrício Boliveira).
O filme começa com belas imagens fotográficas e logo é iniciado o drama de Antônio. Ao voltar para casa junto à sua tropa, o português recebe a notícia de que sua esposa e o filho haviam falecido durante o parto. Pouco depois, ainda é mostrado um fator histórico que diz respeito à difícil comunicação entre escravos africanos recém-chegados e seus senhores. Após cenas de conflitos entre Antônio e seus cativos, um forro chamado Jeremias se apresenta ao tropeiro sugerindo-lhe deixa-lo trabalhar com plantações em suas terras.

https://farm5.staticflickr.com/4530/37594151865_a80afbca23_z.jpgO tropeiro Antônio possuía relação próxima com Bartholomeu, e em uma visita à sua fazenda para um almoço são mostrados interessantes aspectos que ilustram a dinâmica da Casa Grande, à maneira patriarcal e senhorial, no início do século XIX. Durante a refeição, a prática de que somente os homens se sentam à mesa é representada, junto à própria forma de se alimentar usando os dedos, e não talheres, como de costume atualmente. Assim, durante o momento da visita de Antônio, uma série de acontecimentos envolvendo uma, possível, inocente brincadeira de criança e um par de sapatos, culmina no casamento entre o português e Beatriz, filha de Bartholomeu.
Enquanto isso, a trama que se passa em um período de transição em que a mineração começa a ser substituída pela agropecuária pelo esgotamento dos minerais, retrata a fazenda de Bartholomeu e o enfrentamento de uma grave crise dos recursos de suas terras, que o leva a se mudar para o Serro, em busca de melhores condições de vida. Assim, com sua família possuidora de terras em condições de pobreza, o casamento de Beatriz, filha de um senhor reconhecido, com o português Antônio, representa a união entre a filha de uma família que oferece o terreno como dote, pela união ao capital que o noivo possui.
Além disso, durante a cena do casamento entre Antônio e Beatriz é mostrada outra característica da dinâmica entre a casa grande e a senzala. Naquela oportunidade estaria ocorrendo as festividades cerimoniais do casamento dentro de casa, enquanto os escravos também festejavam com danças e cantos no lado de fora.
Após as cerimonias, se começa a notar, no cotidiano do casal recém-formado alguns aspectos que dizem respeito à situação de Beatriz e sua posição infanto-juvenil que está comprometida em um casamento com um homem já adulto. As cenas mostram a menina com um semblante infantil e leve, principalmente quando estava na presença do escravo Virgílio. Por outro lado, é perceptível a faceta do medo e insegurança quando está próxima a Antônio.
Nesse sentido, após a mudança de Beatriz para a fazenda do português, são mostradas algumas sequências de cenas em que mostram relações mantidas pelo tropeiro com sua cativa Feliciana, que ficou grávida do senhor, e com Beatriz, após a primeira menstruação da jovem. Assim, brevemente, é possível recordar do que dizia Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, ao afirmar que não existiria um sistema escravista e patriarcal sem depravação sexual [4].

Segue o link para assistir o filme pelo YouTube: https://youtu.be/aqTVl9seXTI



[1] VAZANTE. Direção de Daniela Thomas. Brasil: Dezenove Som e Imagem, 2017. (100 min.)
[2] Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rioshow/critica-vazante-22040254>. Acesso em: 28/10/2019
[4] FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala, 50ª edição. Global Editora. 2005.

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