Síntese d'A Primeira Grande “ONDA” Anticomunista: 1935/37
Este texto se trata de uma síntese do capítulo 7 da tese de doutorado do professor Rodrigo Patto Sá Motta - EM GUARDA CONTRA O PERIGO VERMELHO: O ANTICOMUNISMO NO BRASIL (1917-1964)
O texto, inicialmente, trata do crescimento das forças anticomunistas, as quais foram impulsionadas e, ao mesmo tempo, impulsionam a Ação Integralista Brasileira nos anos 1930. Esse combate ao comunismo teria se fortalecido, sobretudo, pela associação que foi feita entre o Partido Comunista e a criação da Aliança Nacional Libertadora. Essa Aliança, criada com o principal objetivo de combater o fascismo e o imperialismo no Brasil foi composta por diversas camadas sociais e setores da esquerda brasileira, incluindo os comunistas. Porém, como forma de combatê-la, o que era conveniente tanto para os fascistas, para o governo Vargas, e para os integralistas, a ANL foi julgada como comunista e, sendo vista como uma ameaça à ordem, foi proibida e fortemente caçada pela primeira grande “onda” anticomunista.Nesse sentido, o anticomunismo teria sido colocado em voga, sobretudo pela imprensa, após a tentativa de insurreição do levante comunista. Segundo o autor, o conjunto de levantes em quartéis das forças armadas com o apoio de militares por várias partes do Brasil em 1935 podem ser caracterizados como um levante comunista, já que o devir daquelas ações era a instituição do socialismo, provavelmente, sob a liderança de Luís Carlos Prestes, caso fossem vitoriosos. Porém, forte e potente mobilização para a derrubada dessa insurreição fez com que cada uma das tentativas fossem derrotadas, a começar pelo nordeste e, depois de já estarem mobilizadas as defesas anticomunistas, no sudeste e sul.
Além disso, o autor dialoga com vertentes que colocam a insurreição de 1935 no âmbito do despreparo, da incapacidade e, também, com a própria opinião dos defensores da época e da propaganda anticomunista que construíram uma imagem de revoltosos inconsequentes e imbecis. Assim, o argumento é, resumidamente, que o episódio resultou em muitas mortes e existia sim um preparo, sobretudo, pela visão, que arrisco a chamar de geopolítica, dos idealizadores daquelas ações, já que sabiam dos embates regionais que aconteciam entre as elites do momento, dos conflitos internos do exército e as próprias questões em relação a uma suposta incapacidade de Getúlio Vargas cumprir o que fora proposto pela Revolução de 30. Ademais, como os revoltosos já haviam sido derrotada na parte norte brasileira, as forças, sobretudo do Rio de Janeiro, já trataram de se mobilizar e agir sob a desconfiança dos possíveis revolucionários dos quartéis, o que ainda teriam retido quesitos fundamentais para a execução do plano original da insurreição.
No que tange à reação, foi possível notar o proveito que foi feito por parte de Vargas pelo modo como ele usou a derrota do levante comunista como uma promoção do próprio governo como um defensor da ordem. Além disso, uma grande mobilização da imprensa ajudou a disseminar e construir a imagem de comunistas maniqueístas, estupradores, frios e covardes, a partir das publicações que “descreviam” as ações revoltosas e maldosas de novembro de 35. Assim, o próprio povo, aterrorizado e acreditando nesses discursos se inserem cada vez mais no anticomunismo, chegando a fazer denúncias e acusações de pessoas que eles desconfiavam ser comunistas.
Outro interessante ponto colocado como uma reação ao levante comunista foi a criação da Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo, que serviu de instrumento para combater esse comunismo dado como assustador e repudiante, mas também se fez uma oportunidade de pressionar Vargas a tomar atitudes mais drásticas na repressão aos comunistas aprisionados. Dentre essas pressões ao governo, uma das mais impactantes que foi cedida diz respeito à demissão e não aceitação de comunistas nos cargos públicos.
Outros importantes combatentes ao comunismo foram a imprensa e a Igreja. A primeira, sobretudo através do DNP, que em 1939 passou a se chamar DIP, possibilita a transmissão de mensagens anticomunistas em jornais e rádios. Já a Igreja, cada vez mais tentava atrair os trabalhadores e operários, a fim de que evitem recorrer às organizações julgadas como comunista. Ao mesmo tempo, havia um grande esforço para criar e sustentar uma mentalidade anticomunista com base religiosa. Assim, como hoje, a repressão ao comunismo se direcionou aos professores que começavam a ser caçados e perder seus empregos, sob a Lei que lhes privou de quaisquer direitos de remuneração pela demissão, caso fossem pegos com ensinamentos subversivos
Com isso, o autor aponta para dois principais desdobramentos de todo ocorrido após 1935. O primeiro é o fato de o Estado se centralizar ainda mais com um dispositivo de poder através da repressão, o que se deu por uma articulação das elites conservadoras. O segundo desdobramento diz respeito ao imaginário que foi criado e disseminado pela campanha anticomunista. Um imaginário que trata o comunismo como mal, demoníaco, patológico, violento e imoral.
Após abaixar a poeira do conturbado contexto pós-insurreição, o governo foi baixando também a guarda e políticos pediam o fim do Estado de Guerra que havia sido instaurado na “caça” ao comunismo. Porém, isso causou descontentamento e gerou críticas por parte de anticomunistas radicais, que geralmente eram integralistas, militares e/ou católicos. Assim, a campanha anticomunista se tornou ferrenha nos espaços dominados por essas pessoas que ainda temiam e sustentavam a propagação do medo de uma nova insurreição ou intentona comunista. Ademais, esse fervor e desejo pela volta do Estado de Guerra se consolidou ainda mais após a denúncia do Plano Cohen. Essa denúncia se baseava em um suposto plano descoberto, cuja assinatura codificada escrevia “Cohen, e a partir dele se faria uma outra tentativa de revolução para instaurar o comunismo no Brasil.
Assim, em 1937 emplaca novamente a campanha anticomunista. Agora, com mobilização envolvendo militares, vistos como fiéis à pátria, políticos e burocratas em busca de se prepararem junto ao Governo contra qualquer movimentação revolucionária. Nesse sentido, com o enfraquecimento do PCB num contexto de grande repressão, as prisões de atores subversivos perderam o foco para a propaganda. O principal meio de combate ao comunismo, portanto, passa a ocupar espaço nos meios de comunicação, pela promoção de conteúdos anticomunistas e na apreensão de livros, obras e publicações consideradas como parte do “perigo vermelho”.
Sendo consolidada a crença dessa nova ameaça comunista, dando legitimidade ao Estado para controlar e exercer como lhe parecia convincente sob o pretexto de defender a pátria contra a ameaça vermelha, estavam abertas as portas tão bem cogitadas e forjadas por Vargas para o golpe que veio a instaurar o Estado Novo. O golpe contou com o apoio de muitos, sobretudo da AIB, que continuava frisando sua ideologia e parabenizando o governo pela defesa que garantiu ao Brasil contra o diabólico comunismo. Ademais, ainda contou com o silêncio de outros, desmobilizados e, de certa forma, desencorajados de protestarem suas opiniões.
Por fim, segundo o autor, o Estado Novo uso, dentre outros elementos, desse anticomunismo majoritariamente aterrorizante para se instaurar e sustentar sua ditadura. A propaganda não era tão ferrenha quanto no período de 35, mas foi fundamental para justificar a extrema centralização do poder varguista ditatorial.
BIBLIOGRAFIA:
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917- 1964). São Paulo, Perspectiva, 2002.
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